Por Tobias Leenaert, autor do blog The Vegan Strategist e do livro How to Create a Vegan World: A Pragmatic Approach.
Supõe que te pedia para escreveres um perfil para um site de namoros. E supões que te dizia que só podias usar uma palavra para descrever o que desejas num(a) companheiro(a). Que qualidade procurarias antes de mais?
A minha seria: uma mente aberta. É a qualidade que garante que podemos falar e ter boas conversas, aconteça o que acontecer. É a qualidade que ajuda a garantir a empatia, porque estamos abertos a ouvir e considerar todo o tipo de coisas. É a qualidade que garante, em suma, o desenvolvimento.
O oposto de ter uma mente aberta, é ser dogmático.Ser dogmático é basicamente a atitude de não questionar as coisas. Uma pessoa não é necessariamente dogmática em todos os tópicos imagináveis, mas pode certamente ser dogmática sobre certos tópicos.
Se tu és um vegano neste momento, então há uma grande probabilidade de que, tal como eu, passaste uma parte considerável da tua vida a aceitar certos dogmas relativos ao consumo de animais. Tu estavas num certo caixote. Chamo a este caixote o caixote do carnismo (o termo é da Melanie Joy).
Estar dentro do caixote do carnismo – estar sujeito à ideologia do carnismo, fez-te aceitar todo o género de ideias dogmáticas. Como as ideias de que comer produtos de origem animal é natural, normal, e necessário.
Depois de algum tempo, se foste como eu, a luz acendeu-se. Empurraste e abriste o caixote e saltaste para fora como um vegano (talvez primeiro como vegetariano, mas isso é aceitável).
Ora, a coisa que eu percebi – apenas depois de muitos anos de ser vegano – é que até certo grau, eu tinha acabado noutro caixote. O caixote vegano.
Tal como antes tinha aceitado dogmaticamente todo o tipo de crenças, agora eu estava a fazer a mesma coisa. Pensava no veganismo na única forma que é permitido pensar sobre isso: honrando a definição que já tem décadas. Eu dizia que assim que alguém fazia uma excepção, essa pessoa deixava de ser vegana. Repetia o eterno mantra de que não interessava o bem-estar mas sim os direitos dos animais (e usava “bem-estar” e “bem-estarismo” como palavras feias – quando é que se tornaram nisso?) E por aí fora…
Então, há uns anos, eu saí em grande parte desse caixote. E comecei a questionar tudo outra vez. Acredito que estou a chegar, em grande medida, às mesmas conclusões que tinha dentro do caixote vegano, mas há uma diferença substancial. É o próprio acto de questionar que é importante. É isso que nos protege do fundamentalismo. É isso que nos mantém com uma mente aberta. É isso que nos afasta do dogma. E o dogma é o que nos impede de melhorar.
E a necessidade de questionar, de instrospecção, de auto-consciência não acabou. É possível que acabe ainda noutro caixote. Poderia chamar-se… o caixote das mentes abertas, o caixote antidogmático, o caixote pragmático. Podemos criar caixotes, ou ideologias, a partir de qualquer coisa.
Há caixotes melhores que os outros, mas é melhor não estar sequer em nenhum caixote e manter livre o nosso pensamento.
Podem ver a apresentação sobre ter uma mente aberta, racionalidade, empatia e positividade que recentemente fiz na Conferência Internacional de Direitos dos Animais no Luxemburgo:
Tradução: João Madureira
Artigo traduzido com a permissão do autor.
Artigo original: http://veganstrategist.org/2017/09/13/beware-vegan-dogma/