Por Virginia Messina, dietista e activista, co-autora dos livros Vegan for Life, Vegan for Her, Never Too Late to Go Vegan, e Even Vegans Die
Esta é a minha 4 e (por agora) última publicação sobre as tácticas para prevenir ex-veganos. As minhas ideias sobre este tópico derivam de vários tipos diferentes de evidência – incluindo investigação com veganos e vegetarianos, assim como investigação sobre comportamentos alimentares em geral.
Para resumir aquilo que já escrevi:
- As pessoas por vezes abandonam o veganismo (ou o vegetarianismo) porque não acreditam mais nos seus benefícios – portanto, ao publicitar exageradamente os benefícios do veganismo, fomentando expectativas irrealistas (como a ideia de que você pode envelhecer como uma supermodelo) pode sem dúvida sair-nos o tiro pela culatra quando se trata de encorajar o veganismo a longo prazo.
- Da mesma forma, pode ser um erro ignorar a questão ética. Parece como se por vezes tivéssemos medo de falar sobre o assunto – medo de dizer, de facto, que os animais importam. A verdade é que a ética é uma forma mais honesta de abordar o activismo vegano e provavelmente uma abordagem que é, em última análise, mais eficaz.
- Finalmente, embora queiramos apresentar o veganismo como sendo fácil, estamos na verdade a falhar aos veganos, particularmente aos novos veganos, se não falarmos sobre os detalhes nutricionais importantes. Os veganos não apenas podem ficar, como ficam, de facto, doentes se não têm acesso a informação nutricional fidedigna.
Existem outras questões importantes das quais todos sabemos – dar apoio, especialmente apoio solidário, quando as pessoas estão a debater-se com o seu veganismo. A nossa comunidade precisa de proporcionar um local seguro para as pessoas que admitem que cometeram um erro ou que fizeram uma escolha não vegana. Precisamos de reconhecer o esforço e a intenção mesmo quando a perfeição (seja o que for que isso significa) é elusiva, respeitar os desafios que algumas pessoas enfrentam, e deixá-las prosseguir ao seu próprio ritmo.
Mas a última coisa sobre a qual quero falar efectivamente engloba muitos temas em termos de encorajar um compromisso com o veganismo. Trata-se da importância de fazer com que o veganismo seja sentido como “normal”.
Um estudo da Universidade de Cornell intitulado “Who We Are and How We Eat: A Qualitative Study of Identities in Food Choice.” [Quem Nós Somos e Como Comemos: Um Estudo Quantitativo das Identidades na Escolha Alimentar], examinou esta questão. Os investigadores descobriram que muitas pessoas (estas não eram vegetarianas) expressaram um desejo de verem os seus hábitos alimentares como “normais” em vez de “extremos”. Isto é importante para o nosso activismo porque inquéritos a ex-vegetarianos descobriram que muitos deles não gostavam de se sentir “conspícuos”.
Nós, os veganos, comemos (e vivemos) de uma forma que é muito diferente da do resto da população. Para alguns de nós isso não é grande coisa. Para aqueles que valorizam sentirem-se normais, poderá trazer-lhes um desconforto considerável em relação ao seu estilo de vida vegano. Nós não podemos alterar o desejo de se ser normal, mas podemos dar passos para “normalizar” o veganismo.
Uma forma é fornecendo mais opções veganas que imitam padrões alimentares habituais. A indústria alimentar fez disso um trabalho notável, e as escolhas estão sempre a tornar-se melhores e mais diversas. Os queijos e as carnes veggie são muito melhores hoje do que eram há dez anos. Também é mais fácil encontrar opções veganas nos restaurantes convencionais, e isso é algo que os activistas veganos deviam apoiar.
Eu sou frequentemente castigada por causa do meu posicionamento em relação às carnes veggie – que é que é ok consumi-las. Uma leitora do meu blog disse-me recentemente que são “comida de plástico” e que são “piores que carne” (tal como ela tinha aprendido num curso online de nutrição de base vegetal).
Eu compreendo que evitar esses alimentos é uma parte importante de algumas filosofias alimentares de base vegetal. Mas a nutrição não é uma filosofia; é uma ciência. Não sei de nenhuma evidência de que algumas doses de carnes veggie por semana irão prejudicar a sua saúde.
E não se trata apenas de comodidade – embora essa seja uma grande parte do benefício que elas trazem às dietas veganas. Com igual importância, estes alimentos e outros podem tornar o veganismo mais social e psicologicamente confortável para algumas pessoas. Fazem-no ser um pouco mais como aquilo com que alguns de nós crescemos. Permitem aos veganos comerem em restaurantes com amigos sem terem de pedir ao empregado de mesa para se inventar algo especial para eles – algo que talvez os faça sentir conspícuos e inconfortáveis.
Nós sabemos que o veganismo não é acerca de nós. E um pouco de desconforto da nossa parte não deveria ser um grande problema dado aquilo pelo que os animais passam todos os dias. Mas também precisamos de ser realistas. Tornarem-se veganas representa um enorme desafio para muitas pessoas. Não se trata apenas de aprender a gostar de novos alimentos e a deixar de consumir velhos alimentos favoritos. Trata-se escolher um caminho que nos põe de passo trocado com grande parte da sociedade. Dependendo de quem você é, de onde mora, e de como são os seus círculos sociais, isso poderá ser alienador.
O que nós realmente queremos, claro, é que o veganismo venha a ser a norma e não a margem. Mas até isso acontecer, fazê-lo parecer normal poderá ser aquilo que é necessário para algumas pessoas se tornarem e manterem veganas.
Tradução: Nuno Metello
Artigo traduzido com permissão da autora