Por Virginia Messina, dietista e activista, co-autora dos livros Vegan for Life, Vegan for Her, Never Too Late to Go Vegan, e Even Vegans Die
É importante consumir alimentos saudáveis e integrais – tal como é importante prestar atenção aos nutrientes individuais. No entanto, ultimamente, tornou-se impopular dizer isso. É aquilo a que activistas alimentares como Michael Pollan se referem como “nutricionismo”. Isto é, ele e outros dizem que nos devemos deixar de preocupar tanto em relação aos nutrientes e em vez disso simplesmente consumir comida (ou comida “a sério”, como eles se referem a isso). Tal como o nutricionista-celebridade Dr. David Katz diz: “Se você consumir alimentos integrais, os nutrientes tratam de si próprios.”
Mas isto não é exactamente uma observação baseada na ciência; é uma opinião ou, quando muito, um palpite ou uma observação informal do mundo. Observações concisas como esta conduzem a uma escrita cativante e a frases-chave ousadas, mas nem sempre a um grande aconselhamento. Essa é uma das razões pelas quais eu não entro na onda das celebridades da alimentação. Afinal de contas, até mesmo o Dr. Katz foi posto em causa por defender charlatanismo e por partilhar uma perspectiva que nem sempre é baseada em evidência.
Para sermos justos, porém, ao contrário de Pollen, cuja compreensão da nutrição é praticamente inexistente e cujo aconselhamento é por vezes um absurdo completo, o Dr. Katz frequentemente traz um ponto de vista equilibrado em relação a temas nutricionais controversos. E provavelmente não é totalmente incorrecto que as pessoas se devam preocupar mais em consumirem alimentos integrais e nutritivos e menos em micro-gerir as suas dietas.
Ou pelo menos isto não é provavelmente incorrecto no mundo no qual Michael Pollan e o Dr. Katz habitam. Porém, poderá ser incorrecto no meu. Porque a dieta integral e baseada em plantas de que Katz, Pollan e outros estão a falar inclui um punhado de alimentos que eu e você não consumimos. Inclui – em quantidades moderadas – queijo e ovos e galinha e peixe. Portanto, eles não estão realmente a falar em como poderemos alcançar o consumo ideal de ómegas 3, cálcio, vitamina B12 e ferro através do tipo de dieta que eu promovo. A ideia de que os nutrientes irão tratar “de si próprios” nem sempre é sustentada no caso dos veganos.
As dietas que têm há muito tempo protegido a saúde de pessoas na Ásia e na Europa meridional são baseadas em alimentos vegetais integrais, mas não são veganas. Uma dieta vegana omite alimentos que são fontes tradicionais de nutrientes em dietas de base vegetal culturais. E quando as pessoas deixam de consumir produtos animais, elas precisam de saber algumas coisas sobre nutrientes. Elas precisam de saber, por exemplo, que é importante incluir leguminosas – pelo menos 3 doses – nas dietas veganas para se obter quantidades adequadas de todos os aminoácidos. Elas precisam de saber que os vegetais de folhas verdes fornecem cálcio que, de facto, é absorvido pelo corpo. Elas precisam de saber que tipo de suplemento de vitamina B12 é melhor e quanta é necessária.
Nós, os veganos, somos uma espécie de pioneiros no que diz respeito à alimentação ética, porque um mundo que reconhece a justiça para os animais é muito diferente do mundo que tem existido até hoje. Não temos a História, por isso temos de nos guiar pela ciência. Isso faz com que ser vegano pareça difícil? Soa como o nutricionismo? Não importa. A nossa tarefa é assegurar que as dietas veganas possam ser escolhas viáveis a longo prazo para qualquer pessoa que queira ser vegana. Isso requer informação nutricional vegana sólida e baseada em evidência. A atenção aos nutrientes é crucial para prevenir ex-veganos. Os animais não se podem dar ao luxo de nós corrermos riscos com aconselhamento impreciso e sem sustentação sobre como os alimentos integrais automaticamente satisfazerem as necessidades nutricionais.
Tradução: Nuno Metello
Artigo traduzido com permissão da autora
Original: Preventing Ex-Vegans: Why Nutrition and Nutritionism Matter