Prevenir Ex-Veganos – Parte 2: O Poder da Ética

Por Virginia Messina, dietista e activista, co-autora dos livros Vegan for LifeVegan for HerNever Too Late to Go Vegan, e Even Vegans Die

Ajudar as pessoas a tornarem-se veganas é óptimo. Mas não tem muito significado se não as podermos ajudar a manterem-se veganas. Na semana passada escrevi sobre como sobrevalorizar os benefícios da dieta vegana pode dar origem a ex-veganos. Uma das razões pelas quais as pessoas desistem das dietas veganas é que elas perdem a fé nos seus benefícios. Isto é mais provável acontecer se as afirmações forem inverosímeis.

Também corremos o risco de perder veganos (e vegetarianos) quando omitimos os debates sobre ética. Embora a saúde possa motivar muitas pessoas a tornarem-se veganas ou vegetarianas, a ética parece ser mais “fixante”.

À medida que tenho mergulhado nesta questão da prevenção do recidivismo, examinei bastantes dados, incluindo:

As conclusões são relativamente consistentes em relação ao poder da ética em ajudar as pessoas a manterem-se veganas ou vegetarianas.

Por exemplo, o Inquérito da Faunalytics descobriu que a saúde era a única motivação para se terem tornado vegetarianos citada pela maioria dos ex-vegetarianos. Um estudo da Universidade de Winthrop, na Carolina do Sul, também descobriu que vegetarianos que são motivados pela ética “demonstraram sentimentos de convicção mais fortes.” Eles consumiam menos produtos animais, e tinham menos probabilidade de cometer lapsos (1).

Interessantemente, um estudo do Departamento de Psicologia da Universidade de Surrey, no Reino Unido, descobriu que a ética era um motivador mais forte do que a saúde para mudanças alimentares bem-sucedidas em geral (2). Os investigadores disseram “…se uma intervenção puder encorajar indivíduos a serem motivados por outros factores que não a saúde (como a ética)… tal abordagem seria mais previsível de resultados positivos.”

Portanto, por que motivo é que as pessoas que se tornam veganas ou vegetarianas pelos animais têm mais probabilidade de se manterem vegetarianas? Eu consigo pensar em três razões possíveis.

  • Uma ética vegana é única

O Inquérito da Sociedade Vegetariana de Toronto descobriu que muitos ex-vegetarianos acreditaram que podiam alcançar os mesmos benefícios através de uma dieta que incluía carne. E eles estão provavelmente certos.

Nós podemos (e devemos) dizer às pessoas que uma dieta vegana é uma boa escolha de alimentação saudável; apenas não lhes podemos dizer que é a única escolha. É provável que dietas à base de vegetais que incluem pequenas quantidades de produtos animais sejam tão boas.

Mas a ética do veganismo? Uma vez que lhe tenha aderido, não há forma alternativa de comer. Isto parece ser especialmente verdadeiro para aqueles que adoptam uma ética dos direitos dos animais (3). Se você concorda que os animais não estão aqui para nós os usarmos sob quaisquer circunstâncias, o veganismo é a sua única opção.

  • Veganos motivados pela saúde podem consumir dietas mais restritivas/menos ideais

Os veganos motivados pela ética poderão ter uma abordagem mais descontraída em relação às escolhas alimentares, que faz as dietas veganas serem mais fáceis e com que seja também mais fácil ir ao encontro das necessidades nutricionais (4, 5). Os veganos motivados pela saúde poderão ainda ser menos susceptíveis de tomar os suplementos adequados (5). Um grupo de investigadores disse que “é provável que os veganos pela saúde, em busca de melhor saúde a partir de fontes alimentares, se possam ter abstido do consumo de suplementos, acreditando que os alimentos vegetais eram uma melhor fonte de nutrientes essenciais.” Se isto for verdade, coloca os veganos motivados pela saúde a um risco mais elevado de deficiências nutricionais.

  •  A ética é parte de quem nós somos

Num estudo intitulado “Moralização e Tornar-se Vegetariano”, os investigadores notaram que “Os valores morais são frequentemente referidos como sendo interiorizados, isto é, como uma parte do ser.” (6)

Isso é importante porque muitos ex-vegetarianos dizem que não sentiam como se a sua dieta fosse uma parte da sua “identidade”. Talvez se eles fizessem a ligação moral – a ligação aos seus “valores interiorizados” – mais pessoas veriam que o veganismo é muito mais uma parte das suas identidades do que elas se apercebem.

Segundo uma teoria, aqueles que se tornam veganos pela saúde irão acabar por aderir às considerações éticas, com sorte continuando a adoptar outras mudanças de estilo de vida que reflictam uma ética vegana. Talvez. Mas – provavelmente por as razões éticas para o vegetarianismo se tornarem tão profundamente enraizadas – parece que os vegetarianos éticos são aqueles com mais probabilidade de encontrarem novas razões para se manterem vegetarianos (6).

Activismo Vegano: Meta a Ética em Primeiro Lugar

O problema dos ex-veganos e ex-vegetarianos é sério. Quando as pessoas dizem “Eu fui vegano mas…”, isso perpetua a ideia de que as dietas veganas são difíceis ou não saudáveis. Além disso, é possível que os ex-vegetarianos consumam mais galinhas do que pessoas que nunca foram vegetarianas – o que não é surpreendente se os ex-vegetarianos eram motivados pela saúde (7). Isto é algo que manifestamente pode causar mais sofrimento animal.

Eu promovo dietas veganas apenas por razões éticas porque não tenho outra opção. Não é possível arranjar argumentos convincentes de que todos os alimentos animais são perigosos sem recorrer ao cherry-picking dos dados e eu não posso fazer isso e depois apresentar-me como “baseada em evidência”. Por sorte, parece que a ética é, em todo o caso, um motivador a longo prazo mais poderoso para as dietas veganas e vegetarianas.

Com recursos limitados, parece melhor focarmo-nos em esforços que têm mais probabilidade de criar veganos que efectivamente se mantenham veganos. E assim, seja como for que você aborda o seu activismo, tenha em consideração incluir a ética do uso de animais pelo menos como parte da sua mensagem.

1.     Hoffman SR, Stallings SF, Bessinger RC, Brooks GT. Differences between health and ethical vegetarians. Strength of conviction, nutrition knowledge, dietary restriction, and duration of adherence. Appetite 2013;65:139-44.

2.     Ogden J, Karim L, Choudry A, Brown K. Understanding successful behaviour change: the role of intentions, attitudes to the target and motivations and the example of diet. Health Educ Res 2007;22:397-405.

3.     Menzies K, Sheeshka J. The process of exiting vegetarianism: an exploratory study. Can J Diet Pract Res 2012;73:163-8.

4.     Dyett PA, Sabate J, Haddad E, Rajaram S, Shavlik D. Vegan lifestyle behaviors: an exploration of congruence with health-related beliefs and assessed health indices. Appetite 2013;67:119-24.

5.     Radnitz C, Beezhold B, DiMatteo J. Investigation of lifestyle choices of individuals following a vegan diet for health and ethical reasons. Appetite 2015;90:31-6.

6.     Rozin P MM, Stoess C. . Moralization and becoming a vegetarian: The transformation of preferences into values and the recruitment of disgust. Psychological Science 1997;8:67-73.

7.     Barr SI, Chapman GE. Perceptions and practices of self-defined current vegetarian, former vegetarian, and nonvegetarian women. J Am Diet Assoc 2002;102:354-60.

Tradução: Nuno Metello

Artigo traduzido com permissão da autora.

Original: Preventing Ex-Vegans:The Power of Ethics