Por Virginia Messina, dietista e activista, co-autora dos livros Vegan for life, Vegan for Her, Never Too Late to Go Vegan, Even Vegans Die, e Protest Kitchen.
É a alface realmente pior para o ambiente do que o bacon? É isso que dizem as últimas manchetes, com base nas conclusões de uma nova investigação da Universidade de Carnegie Mellon, em Pittsburgh.
A alface, alegadamente produz mais emissões de gases de efeito de estufa (GEE) do que alimentos prejudiciais como o bacon. Os meios de comunicação declararam, cheios de satisfação, com base neste estudo, que as dietas vegetarianas são prejudiciais para o ambiente.
Mas não foi isso que o estudo mostrou. Nem foi sequer isso que o estudo analisou. O estudo analisou o que acontece quando pessoas que seguem a dieta americana comum mudam para um padrão alimentar mais saudável, tal como é definido pela USDA. E o que acontece é que os benefícios ambientais de se consumir menos carne vermelha são contrabalançados pelas maiores emissões de GEE associadas aos lacticínios, marisco e vegetais – tudo alimentos recomendados como parte deste padrão alimentar mais saudável.
Os investigadores disseram o seguinte:
“Os lacticínios têm, de longe, o maior impacto nas emissões de GEE aumentadas porque têm o terceiro valor mais alto de intensidade de emissões, o qual é então agravado pelas recomendações da USDA para aumentos consideráveis nos lacticínios. O peixe/marisco é a segunda maior força motriz por trás das emissões de GEE aumentadas. Embora o consumo recomendado de peixe/marisco seja baixo em relação à fruta e aos vegetais, a intensidade da emissão do peixe/marisco é significantemente mais alta.”
Em resumo, substituir a carne vermelha por lacticínios e peixe não é benéfico para o ambiente. O estudo não examinou o que acontece quando as pessoas substituem a carne vermelha por cereais, feijões e produtos de soja. Nem examinou as dietas vegetarianas. Os investigadores, porém, reconhecem que outra investigação mostra que adoptar uma dieta vegetariana reduz a pegada ecológica de água e as emissões de GEE. De facto, eles referiram que uma dieta vegetariana é mais eficaz do que os padrões alimentares comuns a este respeito.
Então, e quanto à comparação entre a alface e o bacon? Não faz sentido. Mesmo que a alface seja associada a emissões de GEE mais elevadas por caloria, isso não é relevante para as dietas vegetarianas ou para outro tipo de dieta, uma vez que ninguém se está a encher de calorias de alface. Você teria de consumir 16 chávenas de alface iceberg para igualar o número de calorias de três tiras de bacon.
Mas há aqui um pequeno problema para os activistas pelos animais. Porque os veganos por vezes fazem o mesmo jogo. Quantas vezes você viu infografias e memes mostrando que os brócolos, o espinafre, e até a salsa têm mais densidade proteica por caloria do que o bife?
A salsa? A sério? Sim, ela tem uma quantidade razoável de proteína por caloria, mas você precisaria de consumir 16 chávenas de salsa crua picada ou 8 chávenas de brócolos cozinhados para obter a quantidade de proteína de três onças de bife. Não me parece que isso seja uma comparação muito útil. De facto, parece tão útil como comparar emissões de GEE entre a alface e o bacon.
E, embora nos possamos legitimamente queixar sobre a forma como os meios de comunicação falsearam as conclusões deste estudo, não é como se os veganos nunca fizessem a mesma coisa. Precisamente no mês passado, o meu feed do Facebook estava repleto de memes e links que sugeriam que as carnes processadas são tão cancerígenas como os cigarros, uma asserção que falseia um relatório da Organização Mundial de Saúde.
Eu sei que muitos veganos não estão a fazer isto intencionalmente. É difícil avaliar toda a informação de saúde que se espalha pela internet e definir o que é fidedigno e o que não é. Mas, perante essa dificuldade, nós precisamos de proceder com algum cuidado em relação a como e o quê que nós partilhamos relativamente à dieta vegana e a saúde. Porque os veganos não podem contestar interpretações tendenciosas e erradas da investigação ou as conclusões ilógicas sobre nutrição se fazemos nós próprios as mesmas coisas.
Não podemos manifestar-nos contra a má ciência que prejudica a imagem do veganismo se usamos má ciência para promover o veganismo. Precisamos de abordar a investigação sobre a dieta e a saúde – e sobre o ambiente – com a máxima integridade. Então, quando os meios de comunicação e outros fizerem afirmações que prejudicam a imagem do veganismo, nós podemos responder a partir de uma posição de vantagem.
Tradução: Nuno Metello
Artigo traduzido com permissão da autora.
Original: Lettuce and Bacon and the Environment: some Thoughts for Vegan Activists