Por Tobias Leenaert, autor do blog The Vegan Strategist e do livro How to Create a Vegan World: A Pragmatic Approach.
Veganos e activistas dos direitos dos animais fazem frequentemente comparações entre o movimento dos direitos dos animais e outros movimentos de justiça social, como as campanhas anti-escravatura, de libertação das mulheres, etc.
Apesar de geralmente essas comparações serem bons exemplos para levarem as pessoas a ver certas coisas, ou pensarem nos animais sob uma outra perspetiva, acho que ao mesmo tempo temos de ser cautelosos e não ver apenas as semelhanças, mas também as diferenças.
Penso que o problema é particularmente grave quando se faz um paraleIismo com as causas humanas para justificar NÃO lutar por incrementar melhorias.
É assim:
Um activista pragmático diz que é a favor da mudança de certas regras, como acabar com a castração de leitões sem anestesia. Outros (Francione e os seus seguidores “abolicionistas”, por exemplo), podem contrapor algo como isto (e esta é mesmo uma citação de alguém):
Alguém defenderia a regulamentação da escravatura sexual de crianças? Todos nós diríamos que é o nosso dever moral defender o FIM absoluto da escravatura sexual de crianças, e que as “melhorias” são completamente descabidas e especistas.
As mesmas pessoas podem elaborar argumentos como: nunca faríamos uma campanha pela “violação humana”, ou não é correcto haver “quartas-feiras sem bater na mulher” (uma referência às Segundas Sem Carne).
Acho que aqui a comparação é, no mínimo, muito fraquinha (para não dizer pior). Escravatura sexual de crianças, violação ou bater na mulher são coisas que 99% das pessoas não aceitam. Matar animais para comer é algo que, no máximo, uma pequena percentagem da população não aceita, e o resto de nós, não só perdoa como até celebra. Obviamente, assuntos com uma diferença de apoio público tão dramática, requerem estratégias diferentes.
De uma forma geral, acho que devemos ter cuidado ao estabelecer paralelismos entre a causa animal e outras lutas sociais (humanas). Não percamos de vista as diferenças relevantes. Ao perdê-las de vista podemos ficar cegos e pensar que se pode aplicar exactamente as mesmas tácticas ou estilo de comunicação, quando outras, melhores, poderiam ser usadas.
Artigo traduzido com a permissão do autor.
Tradução: Ana Mineiro
Artigo original: https://veganstrategist.org/2015/03/20/on-comparing-animal-rights-with-other-social-justice-issues/