Veganos: o clube mais pequeno do mundo?

Por Tobias Leenaert, autor do blog The Vegan Strategist e do livro How to Create a Vegan World: A Pragmatic Approach.  

Às vezes, quando ouço ou leio alguns veganos, parece que é como se eles quisessem que o clube dos veganos seja o clube mais pequeno e mais restrito do mundo. Imagino que o que se segue pudesse ser uma possível história do veganismo.

Há algum tempo atrás, dois homens tiveram uma ideia:

– “Eu quero criar um clube, muito, muito restrito, de pessoas moralmente boas. Algo tão restrito que só as melhores pessoas possam fazer parte. Estou a pensar nas regras para se ser membro. Alguma ideia?”

– “Hmmm. Oh! Que tal isto? E se fizermos um grupo para todas as pessoas que não comem produtos animais. Absolutamente nada de animais.”

– “Uau, isso é brilhante! Isso irá excluir tipo 99.99% da população!”

Um tempo depois, o clube tornou-se um pouco maior. Os fundadores tinham um problema.

– “Estamos a ficar muito numerosos, disse um deles para o outro. Como é que podemos assegurar que o clube continue a ser suficientemente pequeno?”

– “Mmm, fazemos com que seja realmente difícil seguir as regras. Só te podes chamar um de nós se seguires TODAS as regras. Se nunca comeres nada errado. E não apenas não podes comer produtos animais, como também não os podes usar. Façamos com que seja sobre o estilo de vida, e não apenas sobre a dieta. Isso vai excluir montes de pessoas!”

– “Óptimo! Que mais?”

– “Podemos incluir tipo os ingredientes mais minúsculos na definição. Aditivos, emulsionantes, aromas…”

– “Parece-me bem! Mais?”

– “Vejamos…As pessoas que se juntem a nós têm de o fazer pelas razões certas! Pelas nossas razões. Se o fizerem por qualquer outra razão, não farão parte do nosso grupo! Uma vez que o nosso grupo é de pessoas moralmente excelentes, toda a gente tem de ter motivações éticas.”

– “Excelente! Mais alguma coisa?”

– Talvez pudéssemos introduzir também critérios completamente diferentes. Tipo, pessoas que sejam sexistas, racistas, classistas, que discriminem deficientes, que façam discriminação etária… também elas não podem fazer parte. E, obviamente, terão de concordar connosco em relação aos OGM e ao aborto.

– “Óptimas ideias! Talvez devêssemos incluir algumas dessas preocupações na definição.”

– “Oh, espera, e produtos de companhias que também façam produtos de carne: não os podemos considerar veganos. Portanto, os membros do clube também não podem comer esses produtos.”

– “E se as pessoas que trabalham nas fábricas que fazem os produtos usarem sapatos de cabedal?”

– “Humm, é uma ideia interessante…Talvez…”

E assim continuou.

Espero que a minha ideia tenha ficado clara. Não façamos com que o veganismo seja ainda mais difícil do que é (porque, para a maioria das pessoas, é). Quando as pessoas quiserem dar o passo, façamo-las sentir-se bem-vindas em vez de não as deixarmos entrar com demasiadas regras e critérios. 

Tradução: Nuno Metello

Traduzido com a permissão do autor.

Original: Vegans:the world’s smallest club?