Por Tobias Leenaert (activista, co-fundador da organização ProVeg International, co-fundador da organização Center for Effective Vegan Advocacy (CEVA) e autor do livro How to Create a Vegan World: a Pragmatic Approach)
Pode parecer natural aos proponentes do veganismo falarem às pessoas sobretudo das razões para se tornarem veganas . As organizações veganas dedicam bastante tempo e espaço, no seu material de divulgação, à teoria e aos argumentos veganos (principalmente filosóficos, com alguma informação ambiental e de saúde à mistura). Com demasiada frequência vejo o “como” ser tratado como algo em que pensar depois. A mensagem soa a: estas são as razões, agora desenrasca-te.
Estou, como é óbvio, a simplificar e há muitas organizações a fazerem um bom trabalho na explicação do que as pessoas podem fazer para aplicarem a ideia vegana ao seu quotidiano, deixarem de consumir animais e tornarem-se veganas. No entanto, acredito que o “como” merece mais atenção do que a que tem tido nas nossas campanhas.
Neste momento já há muitos não-veganos que sabem por que deveriam comer menos, ou nenhuns, produtos de origem animal. Ouço com frequência veganos dizerem “Se todos soubessem, o mundo tornar-se-ia imediatamente vegano”. Ou a eterna frase, “Se os matadouros tivessem paredes de vidro”.
Não acredito que o principal obstáculo às pessoas se tornarem veganas seja falta de informação ou de conhecimento sobre quão problemáticos são os produtos de origem animal. É claro que temos de continuar a despertar consciências, como lhe chamamos. Mas, creio que os principais problemas são: as pessoas não terem ideia de como o fazer e ainda não ser suficientemente fácil para elas. A investigação sobre ex-veganos revela também que muitos deles “escorregam” por informação insuficiente sobre nutrição vegana.
Uma das razões pelas quais não nos focamos o suficiente no “como” é muitos acreditarem que hoje já é bastante fácil tornar-se vegano. É um erro atribuível a não termos suficientemente em conta a perspetiva da nossa audiência alvo. Às pessoas falta habilidade para cozinhar, conhecimento dos produtos, informação nutricional, etc. É, acima de tudo, este tipo de informações que procuram. Perguntem a qualquer webmaster de um site vegano quais as páginas com mais visitas e ele vai dizer-vos que é a secção de receitas (se o site tiver uma secção de receitas, claro). A minha experiência dos anos em que trabalhei para uma organização é que os nos materiais práticos, por exemplo, mapas da cidade, lista de restaurantes com opções veganas e folhetos de receitas eram bastante mais populares do que publicações sobre o “porquê”. O que fizemos em edições subsequentes de um dos nossos folhetos foi colocar as receitas primeiro e só depois falar das razões. É algo que também pode contribuir para evitar darmos a sensação de estarmos a tentar convencer as pessoas de alguma coisa.
Outro motivo pelo qual nos focamos tanto em argumentos a favor do veganismo, em detrimento do “como”, é que o nosso movimento não quer só que as pessoas façam o que está certo (ser vegano) mas também que o façam pela razão certa (pelos animais). Os leitores regulares deste blogue sabem que não penso ser necessário exigirmos isso porque uma mudança de comportamento pode levar a uma mudança de atitude.
Por fim, outra razão pela qual alguns ativistas não se focam suficientemente no “como” é que, para eles, o “como” não é simplesmente uma questão: temos de o fazer, aqui e agora, e não são permitidas etapas ou estratégias. Penso tratar-se de um erro e que o melhor que podemos fazer é dar às pessoas programas, estruturas e planos para mudarem passo a passo. Normalmente é assim que ocorre a mudança.
Portanto, seguindo o meu próprio conselho, como nos podemos focar mais no como? Algumas ideias:
- verifiquem quanta informação sobre “como” contêm os materiais que distribuem: dedicam espaço e tempo suficientes a receitas, informação sobre nutrição e produtos?
- caso já forneçam essa informação, certifiquem-se que ocupa um lugar de destaque no vosso site e no material a distribuir.
- a vossa organização promove cursos de culinária ou fornece informação sobre onde encontrar cursos de culinária?
- as promessas ou desafios veganos temporários (tipicamente 21 ou 30 dias) são excelentes ocasiões para enviar diariamente às pessoas informação sobre o “como”.
- nas conversas pessoais experimentem focar-se no “como”: falem de passos práticos que as pessoas podem dar em vez de as sobrecarregarem com argumentos. Não se limitem a sugerir-lhes que leiam um livro ou um folheto sobre os problemas com produtos de origem animal, desafiem-nas a irem juntos às compras ou a cozinharem juntos.
Têm mais ideias para nos focarmos no “como”? Digam-me!
Tradução: Sérgio Duarte
Artigo traduzido com a permissão do autor.
Original: http://veganstrategist.org/2016/12/06/going-vegan-why-versus-how/