Não te elogies: A razão pela qual pesquisas baseadas em questionários podem ter erros.

por University of Chicago Press Journals

Todos fazemos coisas para impressionar os outros— exagerar os nossos sucessos, minimizar as nossas fraquezas, até mentir em questionários. Um novo estudo publicado no Journal of Consumer Research mostra por que não dizemos a verdade rigorosa sobre nós em questionários e o que podemos fazer quanto a isso.

“A tendência das pessoas para falarem de si mesmas numa luz mais favorável do que a dos seus pensamentos e ações, a que se chama resposta socialmente desejável, é um problema que afecta a validade de estatísticas e questionários em todo o mundo”, escreve o autor Ashok K. Lalwani (University of Texas at San Antonio).

Quando são perguntados sobre o seu próprio comportamento em relação ao materialismo, compras compulsivas, dependências de drogas e álcool, tabagismo, roubo de artigos de lojas, jogos de azar, prostituição, e atitudes intolerantes, as pessoas tendem a responder de uma forma pouco cândida. 

O estudo distinguiu duas formas separadas de “resposta socialmente desejável”, e verificou  que as orientações culturais das pessoas as levavam para formas diferentes. Por exemplo, as pessoas de culturas com uma “orientação colectivista” (China, Coreia, Índia, Taiwin, Singapura, Japão) têm maior probabilidade de gerir as suas impressões (noutros), o que constitui “uma apresentação deliberada e estratégica de uma forma socialmente aprovada de si próprio”.

A gestão de impressões é “uma tentativa consciente, activa e deliberada de fingir um bom comportamento frente a um público real ou imaginado”, escreve Lalwani. Essa necessidade de dar a resposta “certa” pode ser reduzida mantendo “cognitivamente ocupados” os participantes em inquéritos, tocando música ambiente durante o questionário, como verificou o autor.

Em contraste, os consumidores com uma orientação cultural individualista ( EUA, Canadá, França, Reino Unido, Austrália, Alemanha), têm maior probabilidade de fazer auto-engrandecimento, o que é “uma tendência espontânea para apresentar uma visão positiva do eu que é irrealista e está internalizada”. Este comportamento é tão inconsciente que pouco há a fazer para o impedir. 

O estudo pode ajudar os pesquisadores a avaliar a validade de respostas a questionários à luz da tendência das pessoas para resposta socialmente desejável. Também ajuda os consumidores a preverem o seu próprio comportamento e modificá-lo, potencialmente. 


Referência do artigo científico:

  1. Ashok K. Lalwani. The Distinct Influence of Cognitive Busyness and Need for Closure on Cultural Differences in Socially Desirable RespondingJournal of Consumer Research, 2009; 0 (0): 090114112719036 DOI: 10.1086/597214

Tradução: João Madureira
Artigo traduzido com a permissão do autor.
Artigo original: Don’t Flatter Yourself: Why Survey Research Can Be Flawed