Como a defesa do bem-estar animal promove o veganismo e os direitos dos animais

Por Karen Dawn

Há mais de uma década, quando soube da crueldade institucionalizada de que são vítimas bilhões de animais, dei-lhes a minha palavra de que a minha vida seria dedicada a tentar ajudá-los. Logo me apercebi-de que ao mesmo tempo que a mudança dos meus hábitos alimentares e do vestuário, assim como o meu envolvimento em trabalhos de resgate já faziam a diferença, a capacidade de influenciar o comportamento de outras pessoas aumentava exponencialmente o meu impacto. Não é de admirar que esteja a reler o clássico “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”, de Dale Carnegie.

É um livro repleto de informação relevante para activistas de qualquer causa. Carnegie discute a eficácia com que podemos alcançar e influenciar as pessoas se as fizermos sentirem-se bem e não mal consigo mesmas, por exemplo, elogiando o que estão a fazer corretamente. Leva-nos a interessarmo-nos realmente pelos outros, enquadrando-nos seus interesses e desejos pessoais, ao revés dos nossos. Recomenda-nos que mostremos respeito pelas opiniões alheias sem dizermos, por exemplo, “Você está errado.” E sugere-nos que enfatizemos aspectos com os quais estejamos de acordo.

Neste sentido, Carnegie escreve: “Faça com que a outra pessoa diga ‘Sim, sim’ desde o início. E, se possível, evite que o seu oponente diga ‘não’. “

Explica ainda:

“O orador habilidoso recebe, desde o início, uma série de respostas ‘sim’. Isto estabelece o processo psicológico dos ouvintes orientando-os para uma direcção afirmativa. É como o movimento de uma bola de bilhar, quando, ao ser impulsionada numa certa direcção, necessita em seguida de alguma força para a desviar; e muito mais força para fazê-la voltar na direcção oposta. Portanto, quanto mais ‘sins’ conseguirmos induzir no início, maior a probabilidade de conseguirmos captar a atenção para a nossa proposta final.”

Com isto em mente, enviei, ontem, através do meu boletim informativo do DawnWatch, uma coluna do Nicholas Kristof, do New York Times. Nos últimos anos, ele e outro colunista, Mark Bittman, transmitiram aos leitores do New York Times a consciência dos horrores do nosso sistema alimentar que têm sido amplamente escondidos do público ao longo das décadas e que se tornou norma de produção de alimentos da agricultura industrial. No entanto, apesar dos inúmeros artigos em que relatam o sofrimento dos animais, nenhum dos autores argumentou apresentando a conclusão lógica. Nenhum dos autores sugere que paremos de comer animais. Quando enviei os seus textos aos meus assinantes, na sua maioria veganos, recomendando que os elogiassem e partilhassem, recebi, previsivelmente, algumas notas indignadas, salientando que Kristof e Bittman, apesar de destacarem o sofrimento dos animais, continuam a apoiá-lo comendo carne, sendo, portanto, indignos de elogios.

Compreendo a frustração dos meus leitores, cujo desejo é que Kristof e Bittman se tornem veganos e que digam aos seus leitores para que façam o mesmo. Mas, por enquanto, acho que devemos considerar que esta postura acabaria por surtir uma efeito contrário, ou seja que a maioria dos seus leitores diga não. O foco na flagrante crueldade da agricultura industrial, no entanto, faz os leitores dizerem sim à nossa proposta, concordando que algo está muito errado e mostrando que se preocupam com o sofrimento dos animais. Como Dale Carnegie enuncia, podemos ver Kristof e Bittman a “captar a atenção” dos leitores do New York Times para a nossa (e não a deles) “proposta final”.

De facto, ao ler-se a secção de comentários à última publicação de Kristof, verifica-se que há muitas pessoas a aderir a essa proposta final sublinhando-a com muitos “gosto”. Sem o trabalho de Kristof, não teríamos o fórum do New York Times à nossa espera, com as bases já estabelecidas para se recomendarem dietas de base de vegetal.

Há uma secção inicial no meu livro, Thanking the Monkey, na qual defendo reformas de bem-estar em nome dos seres individuais que estão a sofrer agora, cuja esperança de algum alívio não pode ser sacrificada pela causa. Defender o veganismo não impede o apoio a um sistema de produção de carne mais humano, assim como defender a abolição da pena de morte não impede o apoio a melhores condições ou métodos de execução indolor para os presos actualmente no corredor da morte. Não vou desenvolver este argumento agora, mas queria enfatizar que até só o valor aparente das campanhas de promoção de bem-estar, o alívio do sofrimento, é realmente um valor em si mesmo.

Acontece que no meu próprio activismo defendo directamente o veganismo como um estilo de vida alegre e saudável. É nesta postura que me sinto melhor. Proponho o que realmente acredito e sou recompensada com um sentimento de integridade. Mas será que o que é o melhor para mim é o que mais importa? Percebo que alguns dos grupos de defesa dos animais, cujos líderes são veganos, realizem algumas campanhas pedindo ao público que se oponha à agricultura industrial e que nessas campanhas nem sempre discutam ou recomendem o veganismo. Estes grupos têm brochuras com títulos que promovem o “vegetarianismo”, mesmo que as receitas sejam na realidade veganas. Às vezes, tenho sido impaciente com eles e vejo-os serem castigados pelo nosso movimento sendo acusados de uma postura demasiado suave, por não chamarem as coisas como elas são. Mas Dale Carnegie explica que essas campanhas não são pouco sinceras ou pouco corajosas — são inteligentes. Estão em busca de um “sim”, enquanto que com a mensagem “Go Vegan” directamente na cara, pelo menos para alguns membros da população, candidatam-se fortemente a receber um rápido “não” que seria bem mais difícil de alterar. Estas campanhas mais brandas levam as pessoas a dar o primeiro passo na direcção certa. São, portanto, inestimáveis ​​porque toda jornada começa com um passo.

Siga a Karen Dawn no Twitter: www.twitter.com/theKarenDawn 

Karen Dawn
Defensora dos animais e escritora; Fundadora da DawnWatch e autora de, ‘Thanking the Monkey: Rethinking the Way We Treat Animals’ (Agradecendo ao macaco: repensando o modo como tratamos os animais).

Tradução: Barbara Korman
Artigo traduzido com a permissão do autor.
Artigo original: How Animal Welfare Advances Veganism and Animal Rights