Publicado: 2019-03-04
Por Jack Norris (dietista, co-autor do livro Vegan for Life e co-fundador da organização Vegan Outreach)
Se
admitirmos que os veganos precisam de obter vitamina B12 através de
suplementos ou alimentos fortificados, estamos a dizer que uma
alimentação vegana não é natural?
Um ponto a considerar é que as
fezes contêm grandes quantidades de vitamina B12, produzidas por
bactérias no cólon. Se nos encontrássemos num estado de natureza e ainda
quiséssemos ser veganos, poderíamos obter B12 suficiente a partir das
fezes, apesar de que seria importante fazer esforços para ter a certeza
que as bactérias fossem mortas e os vírus neutralizados.
Reconhecidamente, isto não é extraordinariamente apetitoso.
É
também possível, se nós não quiséssemos matar vertebrados ou comer os
seus ovos e leite, que os humanos pudessem obter quantidades
substanciais de vitamina B12 a partir de insectos e outros bichos.
Uma
coisa que nos separa dos nossos ancestrais pré-históricos é que nós
vivemos muito mais e os baixos níveis de B12 têm mais tempo para se
tornarem um problema. Enquanto que as pessoas podem ter sobrevivido, no
passado, com menos B12, agora que vivemos até aos 80 e 90 anos, temos
que nos prevenir em relação à demência causada por deficiência de B12.
Hoje,
na sociedade ocidental, é fácil para os veganos garantirem um consumo
adequado de B12. Os veganos que se suplementam com B12 têm níveis de
B12 superiores a não-vegetarianos que não se suplementam. De facto,
devido à diminuição, com o envelhecimento, da habilidade de absorver B12
de produtos animais, o Conselho de Alimentação e Nutrição diz
que todas as pessoas (não apenas veganos) com mais de 50 anos devem
“atingir a sua RDA [análogo da DDR, dose diária recomendada]
principalmente através do consumo de alimentos fortificados com B12 ou
de suplementos que contenham B12.”
A Alimentação Vegana é Natural?
A alimentação vegana é natural? Para responder a esta questão, eu recomendo um artigo que examina o assunto com grande detalhe, Comparative Anatomy and Physiology Brought Up to Date: Are Humans Natural Frugivores/Vegetarians, or Omnivores/Faunivores?
[Anatomia e Fisiologia Comparada Actualizada: São os Humanos
Frugívoros/Vegetarianos Naturais ou Omnivoros/Faunívoros Naturais?] por
Tom Billings. Depois de uma extensa revisão de investigações, Billings
concluí que os humanos não são veganos ou vegetarianos naturais. Apesar
disto, ele diz:
Sou
tanto pro-vegetariano como pro-[comer comida crua como grande parte da
alimentação]. Os leitores devem ser informados de que sou vegetariano
desde há muito tempo (desde 1970), e que durante bom número de anos (+
de 8 anos) fui frugívoro (também um ex-vegano), … No entanto, não sou,
definitivamente, um promotor de, ou um “missionário” para, qualquer tipo
de alimentação específica. Na realidade, estou cansado de ver as
dietas crudívoras e [veganas/vegetarianas] promovidas de formas
negativas por extremistas cujo comportamento hóstil e desonesto é uma
traição aos princípios morais positivos que estão supostamente no
coração do veg*ismo
Ele continua:
Tu
não precisas do argumento da naturalidade para ser vegano/vegetariano!
Isto é, apenas razões morais/espirituais são adequadas para justificar a
adopção de uma alimentação vegana/vegetariana (assumindo que essa
alimentação resulta para ti, é claro). Mais, se a motivação para a tua
alimentação é moral e/ou espiritual, então tu vais querer que a base da
tua alimentação seja honesta assim como compassiva. Nesse caso,
descartar os mitos falsos de naturalidade não apresenta nenhum
problema; aliás, descartar mitos falsos significa que estás a descartar
um fardo.
Os leitores podem também estar interessados no artigo Humans are Omnivores (Humanos
são Omnívoros), adaptado de uma palestra de John McArdle, PhD
(publicado originalmente na edição de Maio/Junho do Vegetarian Journal).
O blog PaleoVeganology também tem informação interessante sobre as dietas dos nossos ancestrais.
Que Tipo de Alimentação é Realmente Natural?
Eu
estou grato que os meus ancestrais tenham sobrevivido a vidas que eram
desagradáveis, brutais, e curtas, para que eventualmente me fosse
possível passar várias horas por dia no meu MacBook a escrever, mas eu
já vivi mais do que eles, alimentando-me de uma grande proporção de
comida que eles não reconheceriam e tomando suplementos como criança e
como adulto.
A ideia de que uma alimentação
pré-histórica poderia ser hoje aproximadamente adoptada ou que seria a
melhor alimentação possível, é realmente questionável. As plantas e
carnes comerciais de hoje são diferentes dos alimentos disponíveis em
tempos pré-históricos. Nós comemos híbridos de plantas e damos aos
animais de quinta alimentos que eles normalmente não comeriam. É
tipicamente dado a animais de quinta uma larga variedade de suplementos
juntamente com a sua ração. A oferta alimentar dos Estados Unidos é
rotineiramente fortificada com várias vitaminas e minerais (como
vitamina D no leite) e a maioria das pessoas que tentam adoptar uma
alimentação que consideram mais natural, como adultos beneficiaram
desta suplementação. Nos últimos duzentos anos, a ciência nutricional
resolveu todo o tipo de problemas de saúde sérios que atormentaram a
humanidade durante eras.
Eu não tento ser
como os meus ancestrais pré-históricos de que maneira for. Apesar de
haver excepções, comer carne é uma das poucas coisas que a maioria das
pessoas tentam fazer que é “natural”. Os defensores da alimentação
paleolítica são provavelmente os apologistas da alimentação natural
mais vocíferos e anti-vegetarianos. No entanto, eles raramente comem
insectos, larvas e minhocas, que, de acordo com o Paleoveganology no
seu post What, No Bugs?!
[O Quê, Sem Insectos?], “forneceram, durante muito tempo, nutrientes a
humanos e outros primatas e continuam a fazê-lo hoje na maioria das
partes do mundo”
Actualização de Janeiro
2014: Na realidade, isto pode estar a mudar, com algumas pessoas que
seguem uma alimentação paleo a criarem barras energéticas de grilo (ver Energy Bars That a Chirp in Your Step).
Futuro da Investigação em Veganos
Muitos
veganos são compreensivelmente cépticos em relação à comunidade médica e
científica. Mas ao recusar-nos a aceitar as evidências científicas a
favor da necessidade de suplementação com B12, nós fornecemos um fluxo
de veganos com problemas de saúde para a comunidade médica estudar. Se
és cauteloso em relação à comunidade médica, o melhor que podes fazer é
garantir que não desenvolves deficiências de B12 e que não te tornes um
dos seus pacientes.
Apesar de estar grato de
que investigação tenha sido feita em veganos que não se suplementam com
B12, já chega. É responsabilidade da comunidade vegana parar o fluxo de
sujeitos para pesquisa. Quando os investigadores decidem fazer estudos
em que examinam os problemas de saúde dos veganos que não se
suplementam com B12, seria melhor que eles simplesmente não
encontrassem nenhum.
Encoraja os Novos Veganos a Tomarem B12
Todos
os defensores do veganismo devem estar cientes dos sintomas de
deficiência evidente de B12 (com a consciência de que deficiência
moderada de B12 poderá, ao longo do tempo, também levar a problemas que
não são tão óbvios) e da necessidade de novos veganos começarem a
suplementarem-se com B12 pouco tempo depois de se tornarem veganos (ou
até quase-veganos).
Tradução: Luís Campos
Traduzido com permisão do autor
Original: http://www.veganhealth.org/b12/natural