Por Virginia Messina (dietista, co-autora dos livros Vegan for Life, Vegan for Her, Never Too Late to Go Vegan, entre outros)
Algum tempo atrás, no Outono, quando eu escrevi uma análise do The Vegetarian Myth, prometi adicionar uma perspectiva sobre a controvérsia relativamente às comidas à base de soja. Eu sei que o Jack Norris está a trabalhar numa análise bastante abrangente sobre este tópico que, se tudo correr bem, estará disponível brevemente [já disponível aqui]. Eu vou adicionar alguma informação no meu website também. Por enquanto, eu quero focar-me no assunto importante que é o consumo de soja na Ásia. É uma área de alguma confusão, pois uma crença comum é que os Asiáticos consomem apenas uma pequena quantidade de soja – como que um condimento – e que consomem maioritariamente produtos fermentados de soja como o miso e o tempeh. No entanto, com base na investigação, nenhuma destas suposições está correcta.
A confusão sobre a quantidade de soja que os Asiáticos consomem baseia-se parcialmente numa simples má interpretação matemática. Em estudos de consumo, os resultados são geralmente expressos como a quantidade de proteína de soja que as pessoas consomem – o que é diferente da quantidade total de comida à base de soja nas suas dietas. Por exemplo, de acordo com questionários realizados no Japão, os adultos mais velhos consomem cerca de 10 gramas de proteína de soja por dia, o que corresponde a cerca de 1 a 1 ½ porções de comidas tradicionais à base de soja. Devido ao facto de que alguns autores interpretaram mal a relação entre a proteína de soja e alimentos à base de soja, eles subestimaram grandemente a quantidade de soja nas dietas japonesas.
A informação sobre o consumo de soja na Ásia tem diferentes origens, incluindo estudos feitos com o objectivo de examinar os efeitos da dieta na saúde, o Questionário Nacional de Nutrição do Japão, e a Organização para a Agricultura e Alimentação das Nações Unidas. Destes, os estudos mais importantes são aqueles feitos para observar as relações entre a dieta e as doenças, porque a maioria deles estuda o consumo de soja exaustivamente. Isto é, eles registam a frequência e as quantidades de todos os tipos de produtos de soja consumidos usando instrumentos validados de medição de consumos nas dietas.
Os resultados mostram uma grande variedade de consumos entre os diferentes países e mesmo entre populações. Enquanto que em média os Japoneses consomem 1 a 1 ½ porções, os questionários revelaram que o limite máximo entre os idosos Japoneses – que em princípio deveriam ter uma alimentação mais tradicional – é cerca de 3 porções de comida à base de soja por dia.
É muito mais difícil determinar o consumo de soja na China porque as dietas variam consideravelmente entre as suas regiões. O maior registo de informação disponível é sobre Shangai, onde extensos estudos sobre hábitos de saúde incluem informação dietética de quase 100 mil homens e mulheres adultos. Em Shangai, o consumo médio é um pouco maior do que o consumo japonês. Mas a variação da quantidade consumida é grande e um grande número de adultos nestes estudos – entre 15 e 20% dos homens e 10% das mulheres – consomem 2 a 3 porções de produtos de soja por dia.
Com excepção de Hong Kong, não existe muita informação sobre o consumo de soja noutros países ou regiões. Contudo, as informações disponíveis sugerem que, comparando com o Japão e com Shangai, o consumo de soja é muito mais reduzido em Hong Kong e na Tailândia, que é sensivelmente o mesmo na Indonésia, que é um pouco mais elevado na Coreia de Norte.
E, ao contrário da ideia generalizada, os produtos de soja regularmente consumidos nestes países não são todos – nem mesmo na sua maioria – fermentados. No Japão, cerca de metade do consumo de soja vem dos alimentos fermentados miso e natto, e metade vem do tofu e dos feijões de soja secos. Em Shangai, a maioria da comida à base de soja consumida não é fermentada, com o tofu e o leite de soja como os alimentos mais consumidos. De facto, até na Indonésia, onde o tempeh é uma comida nacional reverenciada, os produtos de soja não fermentados, como o tofu, representam cerca de metade dos produtos de soja consumidos.
Os produtos de soja têm sido consumidos na China desde há pelo menos 1500 anos e no Japão desde há 1000 anos. De acordo com evidências, os produtos à base de soja – tanto fermentados como não fermentados – continuam a ser uma parte significativa das dietas tradicionais asiáticas. Não existe nenhuma razão para que os veganos ocidentais não possam também incluir tais alimentos nas suas refeições.
Artigo traduzido com permissão da autora.
Tradução: Ana Borges
Original: http://www.theveganrd.com/2011/03/soyfoods-in-asia-how-much-do-people-really-eat.html